Sergipe x Vasco E.C.: o esquecido “clássico” de Aracaju e um dirigente histórico em comum
Por Davi Tenório
Quem passa pela avenida Antônio Cabral,
próxima ao Mercado Municipal de Aracaju, pouco reconhece a existência de um
antigo clube da cidade, o qual marcou época nos bailes de carnaval, mais populares
que os do Iate e do Cotinguiba, nas competições de basquete, vôlei e,
principalmente, futebol. Trata-se do saudoso Vasco Esporte Clube, fundado no
dia 15 de agosto de 1931 por comerciários da cidade, em meio a onda de
surgimento de novos clubes na capital.
O cruzmaltino aracajuano estreou no
principal campeonato de futebol do estado no ano de 1932, justamente em uma
época em que o futebol sergipano vivia a hegemonia do Club Sportivo Sergipe, o
qual estava em processo de conquistar seu primeiro hexacampeonato, além de já obter
a preferência os amantes do futebol, ostentando, assim, o apelido de “O Mais
Querido” (Jornal A Républica, edição 30.11.1932). Já no início de suas atividades,
o novato clube já demonstrava a ambição de figurar entre os grandes do estado,
ao ser vice-campeão nos anos de 1932 e 1933, em finais disputadas justamente
com o Sergipe. No entanto, a transformação de um clube pequeno para uma das
forças do futebol sergipano apenas ocorreu com o surgimento de um dos maiores
desportistas sergipanos na presidência do Vasco no ano de 1943: Robério Garcia,
que havia revolucionado o futebol da cidade de Laranjeiras (VIANA FILHO, Francisco. Crônica
Esportiva. p. 40).
O desportista Robério Garcia, figura fundamental para a profissionalização do futebol sergipano. |
O
histórico dirigente foi fundamental na montagem e na liderança de um dos
melhores times da história vascaína e do futebol sergipano, base da seleção
sergipana, que enchia os olhos nos amistosos interestaduais e nas partidas do
campeonato de 1944, o primeiro título, vencido de forma invicta. A partir desse
momento, os duelos entre rubros e canários (apelido constantemente utilizado devido
ao período em que os vascaínos vestiam camisas amarelas) foi alçado ao posto de
clássico, decidindo até mesmo o emocionante campeonato citadino de 1945,
conquistado pelo Sergipe após uma grande reação em um torneio liderado desde o início
pelo Vasco. Um dos fatos mais curiosos envolvendo os dois clubes é que, posteriormente,
Robério Garcia tornou-se campeão sergipano ao presidir o Sergipe na campanha de
1967. É importante destacar que, entre o período comandando o Vasco e o título com
o Sergipe, Robério assumiu a presidência da Federação Sergipana de Desportos (FSD),
tendo como maior legado a introdução do profissionalismo do futebol sergipano e
o resgate deste esporte, que havia passado por uma grande crise nos anos 1950. Infelizmente,
o responsável pela modernização do futebol sergipano acabou sendo deposto do cargo
da presidência da FSD com o advento da Ditadura Civil Militar no ano de 1964,
já que Robério possuía forte ligação com os ideais e movimentos comunistas.
O Clássico Sergipe x Vasco viveu sua época de ouro nos anos 1940, decidindo finais como a da Capital no ano de 1945. |
Curiosamente,
a profissionalização do futebol sergipano pelas mãos de um dirigente vascaíno
não acarretou o crescimento do clube do Vasco. O ônus de manter um clube
profissional afetou no jejum de títulos vascaínos. Porém, ao contrário do Cotinguiba,
o Vasco continuou como um clube competitivo no futebol sergipano pondo fim à
seca de títulos no ano de 1987, sob a presidência de outro histórico dirigente
que também assumiria a presidência da federação: José Carivaldo de Souza.
A
década de 1940 pode ser considerada a era de ouro do clássico Sergipe x Vasco,
com grandes jogos e craques que paravam a cidade – como os craques e
artilheiros Gringo, do Sergipe, e Toinho, do Vasco, ambos transferidos ao
futebol carioca após brilharem nos gramados sergipanos. É verdade que o tempo
não foi nada generoso com o clássico, ofuscado com a ascensão de times como o Confiança
e o Itabaiana, mas com eventuais ressurgimentos de confrontos “pegados” e
decisivos como os ocorridos no ano de 1993. Nesse ano, Sergipe e Vasco
lideraram o campeonato sergipano, decidindo, inclusive, a final da competição.
A equipe vascaína comandada pelo então técnico, ex-jogador e ídolo colorado
Rubens foi derrotada pelo grande time colorado que estava em processo de
conquistar seu segundo hexacampeonato estadual.
Sergipe e Vasco voltaram a realizar grandes confrontos como no estadual de 1993, decidido pelos dois clubes. |
Sergipe venceu o Vasco na final do Sergipano de 1993. |
O Vasco voltou a bater na trave no ano de 1998 ao conquistar o vice-campeonato em um estadual vencido pelo Lagartense. Já no ano de 1999, os cruzmaltinos fizeram uma campanha modesta, com destaque para a partida frente ao Sergipe no dia 16 de junho, uma tarde de quarta-feira no João Hora, vencida pelos rubros com o gol único de Hugo Henrique. O pequeno público de 335 pagantes no Mundão do Siqueira daquela tarde mal tinha ideia de que estava presenciando o último clássico envolvendo duas equipes tradicionais e fundamentais na história do esporte sergipano. Um final melancólico, repleto de agressões físicas e verbais por parte dos jogadores, em um horário pouco atraente e com as arquibancadas vazias, em contraste com as tardes pulsantes da época do antigo Adolpho Rollemberg e do Estádio de Aracaju. Há de se lembrar que o Vasco não havia sido rebaixado no estadual de 1999, mas os seus dirigentes alegaram dificuldades para manter o futebol profissional, retirando-se da competição no ano 2000.
A última partida entre Sergipe e Vasco, realizada no João Hora, marcada pela briga em campo. Hugo Henrique foi o último jogador a balançar as redes no clássico. |
Clima quente no último Sergipe x Vasco. |
Fontes:
VIANA FILHO, Francisco. Crônica Esportiva;
Jornal A Gazeta de Sergipe;
Jornal A República.
Clássico fenomenal e resta a tristeza e decepção dos torcedores do Vasco Esporte Clube.
ResponderExcluirQuando voltara o Vasco Esporte Clube?