É GOL DE RICARDO! QUE FELICIDADE! RICARDO É A ALEGRIA DA CIDADE!

 

Por Gustavo Tenório

Particularmente, tenho maior apreço pelos jogadores que usam apelidos como nome profissional no futebol. Apelidos como Garrincha, Pelé, Tostão, Canhoteiro, Careca (que era cabeludo), Zico, Dinho, Zinho, Zito, Esquerdinha, Dão dentre outros. Mesmo aqueles que usam o diminutivo ou aumentativo de seus nomes, como Ronaldinho e Fernandão. Mas há uma classe de jogadores que ganhavam uma alcunha que fala muito sobre a sua característica de jogo ou o que representava para a torcida. Designações como “Horácio, o tanque da serra”, “Gérson, o canhotinha de ouro” e “Maradona, el pibe de oro”. Mas há um deles que ganhou uma alcunha que melhor representa a emoção do futebol. Trata-se de Ricardo, a alegria da cidade!

As três grandes revelações do Sergipe nos anos 70: Ricardo, Rubens e Joãozinho no ano de 1974. (Acervo pessoal de Rubens)

Ricardo foi um ponta direita que brilhou com a camisa do Sergipe na década de 1970. O ponteira começou nas categorias de base de um clube amador da capital sergipana chamado Atlético, entre os anos de 1969 e 1970. Logo chamou a atenção do histórico treinador colorado Dequinha, que fazia um trabalho de observar a garotada que jogava nos campinhos de Aracaju. O seu Dequinha, então, levou-o para a base do Gipão. Ricardo – a alegria da cidade – foi contemporâneo de base de outro grande ponta que também tinha um apelido que merece destaque: Joãozinho da Mangueira.

A alegria da cidade começou como lateral direito, depois passou a jogar como centroavante e se firmou como ponta-direita, após seguir sugestão de Dequinha. Foi bicampeão sergipano nos anos de 1974 e 1975. Ricardo foi um homem que além do futebol gostava de ler e de escrever. Apreciador da boa música, era também um fã inveterado de Chico Buarque. A propósito, será que o bigode que usava teria sido inspiração de Rivelino ou de Chico?

Ricardo Alegria da Cidade flagrado em uma pausa durante um treino no João Hora (Foto: Gazeta de Sergipe / Colorização: Davi Tenório)

Ao falar de Ricardo é impossível não lembrar de uma das músicas mais representativas do futebol brasileiro. É curioso que muita gente não sabe o nome da música ou da banda que lançou a canção. No entanto, todo mundo sabe cantar o refrão sem errar: “é gol! Que felicidade! É gol! O meu time é a alegria da cidade!”. Trata-se da música “Replay”, composta por João Lemos e Roberto Corrêa e imortalizada pelo Trio Esperança, um conjunto vocal de soul music formado em 1958 no Rio de Janeiro. (Inclusive, o escritor desta crônica até pouco tempo pensava que o nome da música fosse o mesmo da alcunha de Ricardo, além de pensar que a música tinha sido gravada primeiro pelo Trio Mocotó). Outro fato interessante é que a música, para além do refrão famoso, faz menção a um outro jogador que usava um apelido em seu nome futebolístico, o Paulo César Caju, grande atacante de Botafogo, Flamengo, Grêmio e da seleção brasileira (estava no time do tricampeonato mundial!). Para ser mais preciso, a música foi inspirada num gol marcado pelo Caju na final da Taça Guanabara de 1972, quando atuava pelo Flamengo. Aliás, Ricardo apreciava bastante o futebol de Paulo César Caju, como bem se vê numa entrevista dada ao Fascículo Gigante Rubro do ano de 1977.

Após sua passagem pelo futebol pernambucano no ano de 1976, Ricardo retornou a sua velha casa para ser uma das referências do Sergipe no Brasileiro de 1977. (Foto: Gazeta de Sergipe)

Mas, quem será que veio primeiro: a música ou Ricardo? Ao mundo, claro, que foi o Ricardo. E, muito provavelmente, a música foi o que inspirou a sua alcunha. O ponta-direita colorado fazia de fato a alegria da cidade. Seus dribles e suas jogadas de ataque empolgavam a massa rubra nas arquibancadas e nos rádios. Ele era o terror da zaga adversária. Ricardo era uma grande atração nos jogos do Gipão e é sempre lembrado com... alegria por quem o viu jogar.

Eu nasci muito tempo depois de ele ter aposentado as chuteiras. Mas ao ouvir os relatos vibrantes de torcedores mais velhos sobre as atuações de Ricardo fico sempre muito comovido e lamentando por não ter tido a sorte de tê-lo visto jogar. No entanto, recentemente encontrei na internet um vídeo em que Ricardo marca um gol, num jogo contra o Vitória-ES, pelo campeonato nacional da primeira divisão de 1977. É certo que o vídeo dá só um gostinho do que era o Ricardo em campo, ao mostrar um remate certeiro no gol. Mas é da emoção dos relatos que Ricardo Alegria da Cidade ganha vida e se eterniza na memória afetiva da torcida colorada.