sexta-feira, 18 de março de 2022

OS 60 ANOS DA CONQUISTA DA TAÇA DINHÔ MELO: MAIOR GLÓRIA DO FUTEBOL ARACAJUANO

Por Gustavo Tenório.

Em homenagem à enciclopédia e ao ídolo rubro Delmar Teles.

 

Neste 18 de março de 2022, celebra-se a conquista da estimada Taça Dinhô Melo. Entre os anos de 1940 e 1961, os clubes da capital sergipana se lançaram numa disputa pela taça. A tão almejada taça ficaria de forma definitiva na sede do time que conquistasse o torneio três vezes consecutivas ou cinco vezes alternadas. Seu destino se desenhava nas salas de troféus do Sergipe (1940, 1943, 1945 e 1955), Cotinguiba (1941, 1942, 1952 e 1957), Vasco (1944, 1948, 1953 e 1960) ou Confiança (1951, 1954, 1958 e 1959), cada um com quatro conquistas até o ano de 1960. Quis o destino, no entanto, que a decisão do ano de 1961 ocorresse apenas em 1962 e que a taça figurasse em definitivo na sala de troféus vermelha, à época, localizada na antiga sede do Club Sportivo Sergipe na Avenida Ivo do Prado.

A Taça Dinhô Melo na galeria de troféus do Memorial Nivaldo Barros do Club Sportivo Sergipe.

Dinhô Melo foi um desportista de grande relevância no estado de Sergipe, além de notório torcedor do Cotinguiba. Infelizmente, teve uma morte precoce em 1939. Assim, como forma de homenageá-lo e eternizar seu nome no esporte do estado, a Federação Sergipana de Desportos criou o torneio envolvendo as equipes da cidade de Aracaju. Curiosamente, há relatos de que o time do Santa Cruz de Estância reivindicava a taça sob alegação de seu pentacampeonato sergipano entre os anos de 1956 e 1960. No entanto, a Taça Dinhô Melo, como já dito, tratava-se de um torneio que envolvia apenas os times da capital. Para tanto, fora confeccionada uma bela e adornada taça que, desde então, é tida como a maior pérola do memorial do Club Sportivo Sergipe no complexo João Hora de Oliveira. Aliás, memorial que leva o nome do goleiro da conquista: Nivaldo Barros.

O goleiro campeão da Dinhô Melo, Nivaldo Barros. Além de ter o seu nome gravado no Memorial do Club Sportivo Sergipe, o seu sobrenome representa a família que mais colaborou para a História Rubra, já que ele mais seus quatro irmãos foram grandes craques do Vermelhinho (Nivaldo, Nilson, Niltinho, Osvaldo e Zé Alvino - três deles titulares na conquista da Dinhô Melo). 

No ano de 1960, o Sergipe quase levou a taça para a Avenida Ivo do Prado, mas fora vencido na finalíssima pelo Vasco. No ano seguinte, calhou do Vermelhinho enfrentar o seu maior rival na disputa final. O torneio que se iniciou em 1961 acabou tendo o seu desfecho em 1962, no dia 18 de março. O jogo foi realizado numa tarde de domingo no campo adversário, o estádio Sabino Ribeiro. Era a partida definitiva, já que ambos os times já possuíam, cada, quatro conquistas da Dinhô Melo. Por essa razão, os jornais e a população aracajuana estava em polvorosa. O jornal Gazeta de Sergipe, em sua edição de domingo, punha a Taça numa encruzilhada entre o bairro industrial e a avenida Ivo do Prado, além de estampar uma fotografia de Lipiu, zagueiro da equipe azulina. Ainda que as condições parecessem dar alguma vantagem ao time do bairro industrial, a torcida rubra compareceu em grande número ao Sabino Ribeiro, dando apoio ao escrete colorado.


O Caderno Esportivo da Gazeta de Sergipe do dia 18 de março de 1962 dando destaque à grande decisão.  

O Sergipe jogou com a clássica camisa vermelha de gola polo e com o nome do clube estampado no peito, sem escudo. O time iniciou a partida com Nivaldo; Delmar, Brasilino, Bado e Piloto; Zito Aguiar e Juanilton; Nilson Barros, Jorgival, Tomaz e Zé Alvino, sob comando do técnico Enock Nascimento. Os destaques da equipe rubra eram Nilson Barros e Tomaz, sendo este último a maior contratação do futebol sergipano àquela época, custando aos cofres do clube a bagatela de 80 mil cruzeiros.

O primeiro tempo da partida deixou os torcedores d’O Mais Querido apreensivos. Aos 17 minutos, Chepeiro abriu o placar para o Confiança. A tão cobiçada taça parecia querer ficar na zona norte da capital. Mesmo assim, o escrete rubro não se deixou abater e foi ao ataque. No entanto, Roberto, o goleiro do time azul, parecia ser um obstáculo intransponível, o que acabou incentivando seus companheiros e estimulando a sua torcida – segundo o ídolo Delmar, lateral da equipe rubra, os torcedores adversários ficaram tão eufóricos que colavam no alambrado do estádio para pressionar e sufocar a defesa colorada. Passado o êxtase do gol, o Sergipe, como relata o jornal Gazeta de Sergipe, passou a martelar sem parar a meta azulina, fazendo os adversários recuarem e jogarem em retranca. Ainda assim, o primeiro tempo acabou com a vantagem adversária. Cabia ao professor Enock Nascimento traçar uma estratégia para balançar as redes azuis, além de estimular seus comandado a manterem o foco e o equilíbrio psicológico.

O anseio dos rivais pela conquista da Dinhô Melo tornava a disputa ainda mais calorosa. Foto: Gazeta de Sergipe de 17 de março de 1962. 

E assim se fez. A esquadra rubra retornou com gás renovado e com sede de vitória. Passou a dominar o jogo desde o começo. Aos 27 minutos do segundo tempo, como relata mais uma vez Delmar, Nivaldo lançou a bola em reposição, a qual encontra os pés de Bado que, num lançamento longo, acaba encontrando, por sua vez, Jorgival. Este passou a bola para Tomaz, que atraiu toda a defesa para si, devolvendo a bola para Jorgival. Num drible, Jorgival cortou para a esquerda e, quando se preparou para chutar, um carrinho por trás o derruba na área. O árbitro marcou pênalti. Coube justamente a Delmar cobrar a penalidade. Ele, que sempre batia de chapa no lado esquerdo do goleiro, preferiu mudar o lado. Tal mudança, decidida durante o percurso dos dois metros que tomou da bola, deveu-se ao fato de o goleiro adversário saber como ele cobrava pênaltis, já que eram companheiros de seleção sergipana. Entre a sorte e a estratégia, a bola, rasteira, entrou no gol pelo lado direito do goleiro. Era o empate do Vermelhinho. Era o começo da virada.

O craque Delmar, lateral inovador e cobrador oficial de pênaltis do Mais Querido. Com frieza marcou o gol de empate da grande decisão. 

No finalzinho do jogo, faltando dois minutos para o apito final e com a torcida ansiosa e já pensando num segundo jogo para decidir o prélio, lançaram uma bola longa para Jorgival, o que o fez correr com todo gás, mesmo tendo disputado quase noventa minutos de jogo. Na sua cola, o defensor azulino, num carrinho, jogou a bola para escanteio. Enock Nascimento realizara uma substituição, tirando o craque Nilson Barros e colando o dianteiro Bel, que, cheio gás, infernizou a defesa do Confiança, dando sufoco para Zé Mecânico e fazendo do lado direito um corredor. Bel, então, encaminhou-se para o canto do campo para realizar a cobrança. Na grande área, um empurra-empurra e um puxa-puxa de camisa e de calção ilustrava a tensão daqueles 43 minutos do segundo tempo. Segundo o cronista do jornal Correio de Aracaju, “Bel cobrou o tiro de canto e Tomaz num salto felino cabeceou para baixo, decidindo de uma vez por todas a contenda”. Tomaz acabou se desvencilhando do seu marcador e, como diz Delmar, “quando a bola era na cabeça de Tomaz não tinha conversa, era gol!”. Aliás, vale lembrar de como era conhecido o atacante: Tomaz, o cabecinha de ouro.


O artilheiro Tomaz, "o cabecinha de ouro", autor do gol que deu a Dinhô Melo ao Club Sportivo Sergipe.

Com o apito final, a taça que desafiava não só os clubes da capital, mas também o próprio tempo, selou o seu destino definitivo. A torcida rubra invadiu o campo do Sabino Ribeiro, tingindo-o de vermelho. Não é demais falar que a cidade avermelhou naquele domingo de 18 de março de 1962, um dia após de ter completado 107 anos de sua fundação. Milhares de colorados foram às ruas. Houve carreata até a antiga sede na Rua da Frente. Durante o percurso dos jogadores à sede, pelas ruas de Ará, como a rua Bonfim, rua da Vitória e rua Divina Pastora, eram aclamados com aplausos e gritos de campeão pela massa rubra. Os jornais da época relatam uma grande festa também na sede do clube, com os jogadores bebendo champanhe na tão cobiçada taça.

O elenco campeão da Dinhô Melo posando pra foto histórica antes da partida.
Em pé: Brasilino, Nivaldo, Piloto, Zé Raimundo, Zé Almeida, Bado, Delmar, Luís Gonzaga e Joãozito. Agachado: Zito Aguiar, Bel, Nilson Barros, Jorgeval, Tomaz, Zé Alvino, Juanilton e Jaiminho.

Celebrar os 60 anos da conquista e da posse definitiva da Taça Dinhô Melo não se trata apenas de uma mera efeméride do passado. Mas sim de vivificar o próprio clube, seus ídolos e sua torcida. Mais ainda, de saber qual é o lugar do Sergipe no futebol estadual. O tempo prega a peça de fazer as pessoas esquecerem e não darem valor aos grandes feitos e às grandes conquistas. O tempo parece ser só hoje. O tempo, no entanto, é o sempre: ontem, hoje e amanhã, cada um com suas funções e suas perspectivas de ensinamento, ação e projeção. O agora pode ser também esquecido e desmerecido. A Taça Dinhô Melo foi tão importante como o Hexacampeonato nos anos de 1990 – que já é um passado, mas que deve ser tomado como lição e orientação para o presente e futuro. São marcas históricas que revelam a grandeza do Club Sportivo Sergipe. O Gipão não é o que é a partir de hoje. Não chegou à sua grandeza de forma repentina. O passado mostra que o clube tem lugar de destaque no futebol sergipano. E pode mais!

A Taça Dinhô Melo sendo erguida por João Hora de Oliveira (esq.) e Zoroastro Rodrigues (dir.).

A belíssima Taça Dinhô Melo, como dito mais acima, encontra-se no Memorial Nivaldo Barros junto a outros tantos troféus e taças gloriosos, sob os cuidados e curadoria de Edson Nascimento, o Dida do Memorial. Uma visita a esse cantinho do João Hora vale cada segundo. Lá os ídolos daquela conquista estão retratados em inúmeras fotografias. Enfim, que a Taça Dinhô Melo jamais seja esquecida! Que aqueles jogadores jamais caiam no esquecimento!

 

Os campeões Zé Alvino, Bado e Delmar com a Taça Dinhô Melo juntos com o fanático torcedor Rivaldo que acompanhou de perto aquela conquista.

 

 

 


2 comentários:

  1. Nosso time tem muitas histórias lindas e memoráveis grandes conquistas.

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  2. Qto orgulho tenho da nossa vitoriosa história. Me senti como se estivesse lá com nossos herois. Obrigado amigo! Zé Maria

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