quarta-feira, 22 de abril de 2020

Arquibancada: substantivo feminino

Nas arquibancadas do Batistão, é possível identificar uma bandeira peculiar, que registra uma torcedora colorada solitária, em meio a várias bandeiras hasteadas por homens. Com os dizeres "Comando Feminino", a bandeira chama a atenção tanto quanto a presença de mulheres na bateria da Torcida Esquadrão Colorado (TEC). Função tradicionalmente exercida por homens, tocar na bateria é um cargo de luxo, e muitas torcidas organizadas ainda proíbem mulheres nesse posto. O Comando Feminino conquistou esse e outros espaços na maior torcida organizada do time sergipano.
Por Beatriz Barreto 

(Reprodução: Facebook)

Sabemos que poucos universos são tão excludentes quanto o do futebol. Apesar de proclamado “esporte do povo”, o futebol ainda carrega suas raízes extremamente machista, homofóbica e elitista. Nesse contexto, aqueles que têm sido, historicamente, excluídos do símbolo nacional, procuram brechas nessa estrutura já tão consolidada. Subtraídas em todos os níveis, as mulheres têm buscado alguma equidade em campo, e as torcidas organizadas femininas são um exemplo disso, tornando-se uma nova tendência em diversos times do país.

Manifestação das torcedoras do Comando Feminino da TEC
 em um Clássico de 2020 ( Reprodução Facebook)


Criada em 2003, a ala feminina da TEC abraça centenas de torcedoras coloradas que desejam um maior protagonismo nas arquibancadas. Ana Paula Souza, uma das atuais diretoras do Comando Feminino, nos traz a importância desse grupo para as mulheres: "Quando uma mulher está sozinha na arquibancada todos olham meio de lado, mas quando são várias a visão já é diferente." Ela também exaltou o ambiente machista do futebol, que discrimina e menospreza a opinião do público feminino. Tradicionalmente, as mulheres frequentam as arquibancadas na condição de filhas, namoradas ou esposas, e não de torcedoras. Essa visão tem como consequência a hostilidade que as mulheres enfrentam nas torcidas, muitas vezes nas formas de assédio e ofensas, e por isso a importância de mais mulheres em campo lutando por igualdade no direito de representar seu time e sua torcida.

(Reprodução Instagram)
  
Ana Paula também fez história ao se tornar a primeira diretora mulher da TEC, posto que obteve após se estabelecer na torcida como uma das lideranças, não só do Comando Feminino, mas também de toda a torcida. Ela conta que, no início, era apenas a esposa de um integrante da TEC, mas percebeu que poderia ser muito mais que isso. Hoje ela é reconhecida e respeitada por toda a Esquadrão Colorado, e realiza um trabalho de organização e revitalização da torcida. Além disso, as mulheres trouxeram um viés mais amplo, que estende a atuação da torcida para ações sociais durante todo o ano, como distribuição de roupas e alimentos, eventos solidários e recreativos: "Estar à frente do Comando não tem a ver só com futebol, mas também é preciso estar pronta para ajudar cada integrante”, diz a diretora.

Ação Social promovida pelo Comando Feminino da TEC



Infelizmente, o time mais querido do estado não possui equipe feminina há décadas.Talvez essa seja uma grande oportunidade do Sergipe se espelhar, não só na tendência atual de valorização das mulheres em campo, mas também na sua própria torcida, que tem aberto oportunidades para o protagonismo feminino e para a luta por equidade no esporte. Além disso, vetar e punir manifestações machistas fora e dentro de campo são medidas urgentes em uma realidade que busca superar, cada vez mais, essa cultura pervertida. 
Um dos raros registros de uma equipe feminina do Club Sportivo Sergipe. Destaque para a curta matéria sobre a proibição do futebol feminino no país. (Gazeta de Sergipe 22/11/1978)

Ação Social promovida pelo Comando Feminino



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