segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Entrevista com Antônio Matos, ex-presidente do Club Sportivo Sergipe na década de 1960

Hoje, dia 6 de dezembro de 2021, recebemos a triste notícia do falecimento do colorado apaixonado Antônio Matos. Além de torcedor, Antônio foi presidente do Club Sportivo Sergipe e exerceu outros cargos na diretoria executiva e no conselho deliberativo. Tivemos a honra de entrevistá-lo, com a ajuda de Antônio Filho que nos deu essa oportunidade de bater um rápido papo com o seu pai. Dentre os assuntos da conversa, destaca-se o início da construção do Estádio João Hora de Oliveira, que Antônio se orgulha de ter batido a pedra fundamental da construção, o título sergipano de 1964, os craques Elcy e Robertinho, assim como a destituição de Robério Garcia da Presidência da FSD após o Golpe de 1964. Confira a nossa conversa!



Antônio Matos, nascido no dia 11 de Junho de 1930 na cidade de Salgado. Ex-presidente do Sergipe durantes as obras de construção do Estádio João Hora de Oliveira. 


AG - Qual foi o período do seu mandato como presidente?

Antônio Matos - 1962 a 1964.

AG - Já exerceu outras funções além de Presidente do clube?


Antônio Matos - Secretário e conselheiro do clube.


AG - A venda do Estádio Adolpho Rollemberg foi fundamental para bancar as obras do Estádio João Hora?


Antônio Matos - Com o dinheiro da venda do estádio foi adquirido o terreno para a construção do JH.

AG - O senhor sabe em qual ano o Adolpho foi vendido?


Antônio Matos - Não sei, eu não pertencia ao Sergipe.


AG - Como o clube adquiriu o terreno do Estádio JH? A quem pertencia? 


Antônio Matos - Chegamos um dia na loja do João Hora e ele me convidou para adquirir um terreno para a construção, então só me disse que tinha um terreno junto a fábrica de cimento. Então fomos à casa do seu Amaro, dono do terreno. Fomos de manhã na casa dele, seu Amaro ia chegando com um feixe de capim nas costas, ele tinha umas vacas de leite, e o João Hora entrou em contato com ele, não fechou o negócio na hora porque não tinha a medida exata que iria precisar. Esperou na segunda-feira falar com Jota da Silva que tinha a medida, aí seu Amaro veio na segunda e o João Hora fez o negócio. O dinheiro usado foi da venda do Rollemberg, não foi dinheiro do João Hora. 

AG - Em que ano iniciou a construção do Estádio JH?

Antônio Matos - Eu era o presidente na ocasião, lembro do batimento da pedra fundamental com a presença de João Hora, de Zozó, de Rezende e de vários conselheiros do clube. Eu era o presidente da ocasião, mas não me lembro do ano.
Inicialmente, o projeto do Estádio previa uma capacidade maior, teria sido a falta de recursos o motivo para não concretizar os planos antes previstos?

Antônio Matos - Não tenho conhecimento.

AG - Quanto tempo levou para inaugurar o Estádio?

Antônio Matos - Eu não era mais presidente quando foi inaugurado. Eu participei da construção de quase todo o Estádio, faltando apenas a construção do lado da arquibancada. Já havia passado a presidência a Eduardo Abreu. Na época da inauguração eu não fui convidado, por isso até hoje não fui ao estádio João Hora.

AG - Quais foram os maiores obstáculos para construir o Estádio?

Antônio Matos - O maior obstáculo foi logo no começo, não chegava caminhão no estádio. Então eu fui ao prefeito Conrado de Araújo que me conhecia. Chegando lá ele me perguntou o que poderia fazer por mim  e eu falei ‘sou presidente do Sergipe, adquiri um terreno para construção de um campo e o caminhão não pode chegar ao local’, ele respondeu “eu sou Sergipe doente, não tem problema, segunda-feira eu mando as máquinas para lá”. Na segunda-feira  de manhã eu fui lá e as máquinas lá estavam trabalhando, limparam a rua, tirou o areião e o caminhão começou a transportar o material para a construção.

AG - Quais foram os maiores jogadores do Sergipe?

Antônio Matos - Robertinho e Elcy, que eu trouxe de Recife,  também foi um grande jogador que deu o campeonato de 1964 para o clube. Robertinho eu trouxe do Confiança para o clube.

Elcy, o craque do campeonato de 1964. 




AG - Qual foi a sua maior conquista como presidente do Sergipe?

Antônio Matos - A Taça Dinhô Melo que foi ganha no estádio do Confiança.

AG - Qual foi a sua maior alegria pelo Sergipe?

Antônio Matos - Foi ser campeão sergipano em 1964. 

AG - O senhor foi responsável pela contratação de Tomaz Cabecinha de Ouro?

Antônio Matos - Não, quando cheguei ele já era jogador do clube. 
Agora quero dar um relato sobre o jogador Elcy:
Quando eu ia para Fortaleza, parei em Recife esperando o avião que chegaria às 2 da manhã. Então eu encontrei Palmeira em uma boate,  ele então me disse “porque você não leva Elcy para jogar lá?”. Eu respondi: “mas Elcy é muito caro, não dá para mim”. Ele respondeu: “eu como técnico do Náutico eu não deixo ele jogar, fale com o presidente Lero”. Eu voltei para Aracaju, falei com o Robério Garcia e ele fez duas cartas, uma para o presidente do Náutico e outra para o presidente da Federação. Fui a Recife e almocei com o presidente do Náutico e ele então concedeu um empréstimo. Conversei com Elcir e ele concordou. Foi um grande jogador. Quando fez o primeiro jogo, Silva Lima que era locutor disse “ António Matos tá ficando velho, tá ficando bronco, Elcir foi bananeira que deu cacho, Elcir não vai jogar coisa nenhuma”. Elcir me disse: “seu Matos, não se preocupe, irei me preparar”. Quando terminou o jogo contra o Santa Cruz, Elcir pegou a bola, deu um chute que a bola caiu dentro da cabine de Silva Lima, ele então disse “Elcir deu o maior presente da minha vida, a bola do jogo”. Elcir quis jogar era na cara dele, não foi presente.

AG - Sabe por que Robério Garcia renunciou ao cargo da federação?

Antônio Matos - Ele renunciou porque foi obrigado na época da “Revolução”. Robério era comunista, então ele fez isso para não ser preso. Foi colocado dentro de um hospital de doido e então foi obrigado a renunciar para assumir Manuel Cardoso.

AG - Foi o maior presidente da federação?

Antônio Matos - Sem a menor dúvida, foi o maior presidente da federação.

AG - Qual a importância do Zoroastro Rodrigues para o clube e se o senhor era amigo dele?

Antônio Matos - Eu era amigo de Zoroastro, ele foi tudo no Sergipe, conselheiro, técnico, presidente, presidente do conselho, foi um grande conselheiro e adepto do Sergipe.




AG - O senhor poderia descrever como era a antiga sede do Sergipe na rua da frente? 

Antônio Matos - A antiga sede era um prédio de um andar, com uma quadra ao lado. Não posso te dizer porque ela foi vendida, pois eu não era presidente e nem morava em Aracaju. Eu estava com um restaurante em Aracaju.
Lembro que numa certa ocasião chegou um senhor de Salvador querendo comprar a Sede do Sergipe para construir um prédio. Eu convoquei o conselho e não foi aceito. Depois ele voltou, soube que o Sergipe tinha um terreno nas Quatro Bocas com 80m de frente e 140m de fundo. Então ele veio e reuniu o conselho novamente. Ele propôs fazer uma sede náutica no terreno em troca da sede do Sergipe. O conselho não concordou.

AG - Quando se tornou torcedor do Sergipe?

Antônio Matos - Assisti vários jogos como treinador, eu era fotógrafo e fazia fichas da cidade para vender, levava para vender na casa Maringá de Zozó. Acabei virando amigo dele e ele me levou para o Sergipe. 

Após algumas pesquisas em jornais dos acervos públicos, ressaltamos que algumas informações ditas por nosso entrevistado podem não coincidir perfeitamente com os dados históricos, como o período em que Antônio Matos foi presidente do clube. No entanto, decidimos manter as suas palavras, pois tratam-se de valiosa fonte oral da história do futebol sergipano e não resta da dúvida da tamanha contribuição de Antônio Matos ao Club Sportivo Sergipe. Nós do Almanaque do Gipão prestamos nossos sentimentos aos familiares e agradecemos ao Antônio por ter honrado as cores do Vermelhinho! 

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