sábado, 23 de junho de 2018

MARA GRINBERG: UM ROMENO COM AS CORES DO CLUB SPORTIVO SERGIPE


Aproveitamos o clima da Copa do Mundo na Rússia para resgatar a história de Mára Grinberg, o primeiro, e talvez único, jogador do Leste Europeu a vestir o manto rubro


Sport Ilustrado, n.259, 1943

Por Davi Tenório


É possível dar a volta ao mundo com a bola nos pés. No futebol, não faltam jogadores que são verdadeiros ciganos da bola, que colecionam passagens e gols por diversos clubes das mais variadas cidades do Brasil, como o folclórico artilheiro Túlio Maravilha, e do Mundo, caso mais recente do uruguaio Loco Abreu. Geralmente, a peregrinação por diversos times é visto como uma afronta a um esporte que transpira paixão e fidelidade. Por vezes, há simplesmente a necessidade e a inquietude de quem tem várias histórias a se viver.
O futebol por diversas ocasiões é um meio de ascensão social dos marginalizados de nossa sociedade. A plasticidade do drible entorta os mais intransponíveis adversários, seja o preconceito, a fome e a guerra. Uma simples pelota foi capaz de parar por um momento o primeiro conflito bélico mundial do século XX. Também foi pelo jogo que inúmeros refugiados apresentaram jogadas com os pés para construir uma nova vida. Atualmente, quase ninguém conhece a história de um desses ciganos da bola que percorreu milhares de quilômetros até se estabelecer no Nordeste do Brasil. Trata-se de Màra Grinberg, oriundo da região da Bessarábia na Romênia, que desfilou pelas canchas de clubes nordestinos, dentre eles o Club Sportivo Sergipe.


Mára Grinberg no antigo estádio Rollemberg



O exato motivo que levou o jovem romeno a cruzar a Europa e o Atlântico até as terras brasileiras é desconhecido devido às escassas fontes, mas por se tratar de um contexto de conflitos sociais, não há como negar a tese beligerante. O que se sabe é que Gringberg defendeu por um longo tempo as cores do Hocoah, time da sua terra natal, e que veio ao Brasil em 1936 para atuar no Ceará. Posteriormente, mudou-se para Recife encantando os pernambucanos pelo antigo Sport Club Flamengo, até ser transferido para o Bahia, no qual não obteve as mesmas grandes atuações.
Delegação do Sergipe da excursão à "Terra dos Marechais", dentre eles havia o nome de Mara Grinberg. Sergipe Jornal, 28 de abril de 1938
A vida cigana é um caminho sem voltas. Há sempre a sede de conhecer novos lugares. Foi assim que Màra Gringberg desembarcou nas terras sergipanas para vestir a camisa do Club Sportivo Sergipe. Pelo Mais Querido, o romeno conquistou o campeonato sergipano de 1937 e foi destaque na excursão da equipe colorada em Maceió no mês de maio de 1938. Também teve uma breve passagem pelo CSA, retornando logo em seguida à Sergipe, compondo novamente o elenco colorado e do antigo Socialista de Maruim. 

Fontes:
Sport Ilustrado, n.259, 1943;
Sergipe Jornal, edições de 20/04 e 28/04 de 1938

2 comentários:

  1. História interessante! Acredito que o motivo principal que fez com que o romeno Màra Grinberg ter saído do seu país é devido ao seu nome de origem judaica, além do próprio clube que atuava. Mesmo a Romênia ainda não tendo sido invadida, o clima na Europa estava pesado.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ponto muito bem observado, Maurício. Acabei levantando a tese beligerante num sentido mais amplo, como o contexto pós Primeira Guerra e a ebulição com o fim dos impérios Austro-Húngaro e Otomano que fez surgir novos estados no Leste Europeu, assim como o crescimento do antissemitismo e a proximidade da 2ª Guerra.

      Excluir

Zé Pequeno: o Príncipe do Futebol Sergipano

  Por Davi Tenório Zé Pequeno, o Príncipe do Futebol Sergipano. 1967. No dia 13 de julho de 2023 o futebol sergipano perdeu um dos seus ...