Aproveitamos o clima da Copa do Mundo na Rússia para resgatar a história de Mára Grinberg, o primeiro, e talvez único, jogador do Leste Europeu a vestir o manto rubro
![]() | |
|
Por Davi Tenório
É
possível dar a volta ao mundo com a bola nos pés. No futebol, não faltam
jogadores que são verdadeiros ciganos da bola, que colecionam passagens e gols
por diversos clubes das mais variadas cidades do Brasil, como o folclórico
artilheiro Túlio Maravilha, e do Mundo, caso mais recente do uruguaio Loco
Abreu. Geralmente, a peregrinação por diversos times é visto como uma afronta a
um esporte que transpira paixão e fidelidade. Por vezes, há simplesmente a
necessidade e a inquietude de quem tem várias histórias a se viver.
O
futebol por diversas ocasiões é um meio de ascensão social dos marginalizados
de nossa sociedade. A plasticidade do drible entorta os mais intransponíveis
adversários, seja o preconceito, a fome e a guerra. Uma simples pelota foi
capaz de parar por um momento o primeiro conflito bélico mundial do século XX.
Também foi pelo jogo que inúmeros refugiados apresentaram jogadas com os pés
para construir uma nova vida. Atualmente, quase ninguém conhece a história de
um desses ciganos da bola que percorreu milhares de quilômetros até se
estabelecer no Nordeste do Brasil. Trata-se de Màra Grinberg, oriundo da região
da Bessarábia na Romênia, que desfilou pelas canchas de clubes nordestinos,
dentre eles o Club Sportivo Sergipe.
![]() |
Mára Grinberg no antigo estádio Rollemberg |
O exato motivo que levou o jovem romeno a cruzar a Europa e o Atlântico até as terras brasileiras é desconhecido devido às escassas fontes, mas por se tratar de um contexto de conflitos sociais, não há como negar a tese beligerante. O que se sabe é que Gringberg defendeu por um longo tempo as cores do Hocoah, time da sua terra natal, e que veio ao Brasil em 1936 para atuar no Ceará. Posteriormente, mudou-se para Recife encantando os pernambucanos pelo antigo Sport Club Flamengo, até ser transferido para o Bahia, no qual não obteve as mesmas grandes atuações.
![]() |
Delegação do Sergipe da excursão à "Terra dos Marechais", dentre eles havia o nome de Mara Grinberg. Sergipe Jornal, 28 de abril de 1938 |
A
vida cigana é um caminho sem voltas. Há sempre a sede de conhecer novos
lugares. Foi assim que Màra Gringberg desembarcou nas terras sergipanas para
vestir a camisa do Club Sportivo Sergipe. Pelo Mais Querido, o romeno
conquistou o campeonato sergipano de 1937 e foi destaque na excursão da equipe
colorada em Maceió no mês de maio de 1938. Também teve uma breve passagem pelo
CSA, retornando logo em seguida à Sergipe, compondo novamente o elenco colorado
e do antigo Socialista de Maruim.
Fontes:
Sport Ilustrado, n.259, 1943;
Sergipe Jornal, edições de 20/04 e 28/04 de 1938
História interessante! Acredito que o motivo principal que fez com que o romeno Màra Grinberg ter saído do seu país é devido ao seu nome de origem judaica, além do próprio clube que atuava. Mesmo a Romênia ainda não tendo sido invadida, o clima na Europa estava pesado.
ResponderExcluirPonto muito bem observado, Maurício. Acabei levantando a tese beligerante num sentido mais amplo, como o contexto pós Primeira Guerra e a ebulição com o fim dos impérios Austro-Húngaro e Otomano que fez surgir novos estados no Leste Europeu, assim como o crescimento do antissemitismo e a proximidade da 2ª Guerra.
Excluir