domingo, 10 de fevereiro de 2019

Clássicos que deixaram saudades: o Sergipe frente aos antigos clubes de Aracaju (Parte II: Sergipe x Vasco).


Sergipe x Vasco E.C.: o esquecido “clássico” de Aracaju e um dirigente histórico em comum

Por Davi Tenório

            Quem passa pela avenida Antônio Cabral, próxima ao Mercado Municipal de Aracaju, pouco reconhece a existência de um antigo clube da cidade, o qual marcou época nos bailes de carnaval, mais populares que os do Iate e do Cotinguiba, nas competições de basquete, vôlei e, principalmente, futebol. Trata-se do saudoso Vasco Esporte Clube, fundado no dia 15 de agosto de 1931 por comerciários da cidade, em meio a onda de surgimento de novos clubes na capital.
Sergipe x Vasco E.C. no ano de 1979.
            O cruzmaltino aracajuano estreou no principal campeonato de futebol do estado no ano de 1932, justamente em uma época em que o futebol sergipano vivia a hegemonia do Club Sportivo Sergipe, o qual estava em processo de conquistar seu primeiro hexacampeonato, além de já obter a preferência os amantes do futebol, ostentando, assim, o apelido de “O Mais Querido” (Jornal A Républica, edição 30.11.1932). Já no início de suas atividades, o novato clube já demonstrava a ambição de figurar entre os grandes do estado, ao ser vice-campeão nos anos de 1932 e 1933, em finais disputadas justamente com o Sergipe. No entanto, a transformação de um clube pequeno para uma das forças do futebol sergipano apenas ocorreu com o surgimento de um dos maiores desportistas sergipanos na presidência do Vasco no ano de 1943: Robério Garcia, que havia revolucionado o futebol da cidade de Laranjeiras (VIANA FILHO, Francisco. Crônica Esportiva. p. 40).



O desportista Robério Garcia, figura fundamental para a profissionalização do futebol sergipano.
            O histórico dirigente foi fundamental na montagem e na liderança de um dos melhores times da história vascaína e do futebol sergipano, base da seleção sergipana, que enchia os olhos nos amistosos interestaduais e nas partidas do campeonato de 1944, o primeiro título,  vencido de forma invicta. A partir desse momento, os duelos entre rubros e canários (apelido constantemente utilizado devido ao período em que os vascaínos vestiam camisas amarelas) foi alçado ao posto de clássico, decidindo até mesmo o emocionante campeonato citadino de 1945, conquistado pelo Sergipe após uma grande reação em um torneio liderado desde o início pelo Vasco. Um dos fatos mais curiosos envolvendo os dois clubes é que, posteriormente, Robério Garcia tornou-se campeão sergipano ao presidir o Sergipe na campanha de 1967. É importante destacar que, entre o período comandando o Vasco e o título com o Sergipe, Robério assumiu a presidência da Federação Sergipana de Desportos (FSD), tendo como maior legado a introdução do profissionalismo do futebol sergipano e o resgate deste esporte, que havia passado por uma grande crise nos anos 1950. Infelizmente, o responsável pela modernização do futebol sergipano acabou sendo deposto do cargo da presidência da FSD com o advento da Ditadura Civil Militar no ano de 1964, já que Robério possuía forte ligação com os ideais e movimentos comunistas.
O Clássico Sergipe x Vasco viveu sua época de ouro nos anos 1940, decidindo finais como a da Capital no ano de 1945.
            Curiosamente, a profissionalização do futebol sergipano pelas mãos de um dirigente vascaíno não acarretou o crescimento do clube do Vasco. O ônus de manter um clube profissional afetou no jejum de títulos vascaínos. Porém, ao contrário do Cotinguiba, o Vasco continuou como um clube competitivo no futebol sergipano pondo fim à seca de títulos no ano de 1987, sob a presidência de outro histórico dirigente que também assumiria a presidência da federação: José Carivaldo de Souza.
            A década de 1940 pode ser considerada a era de ouro do clássico Sergipe x Vasco, com grandes jogos e craques que paravam a cidade – como os craques e artilheiros Gringo, do Sergipe, e Toinho, do Vasco, ambos transferidos ao futebol carioca após brilharem nos gramados sergipanos. É verdade que o tempo não foi nada generoso com o clássico, ofuscado com a ascensão de times como o Confiança e o Itabaiana, mas com eventuais ressurgimentos de confrontos “pegados” e decisivos como os ocorridos no ano de 1993. Nesse ano, Sergipe e Vasco lideraram o campeonato sergipano, decidindo, inclusive, a final da competição. A equipe vascaína comandada pelo então técnico, ex-jogador e ídolo colorado Rubens foi derrotada pelo grande time colorado que estava em processo de conquistar seu segundo hexacampeonato estadual.


Sergipe e Vasco voltaram a realizar grandes confrontos como no estadual de 1993, decidido pelos dois clubes.
Sergipe venceu o Vasco na final do Sergipano de 1993. 

           
O Vasco voltou a bater na trave no ano de 1998 ao conquistar o vice-campeonato em um estadual vencido pelo Lagartense. Já no ano de 1999, os cruzmaltinos fizeram uma campanha modesta, com destaque para a partida frente ao Sergipe no dia 16 de junho, uma tarde de quarta-feira no João Hora, vencida pelos rubros com o gol único de Hugo Henrique. O pequeno público de 335 pagantes no Mundão do Siqueira daquela tarde mal tinha ideia de que estava presenciando o último clássico envolvendo duas equipes tradicionais e fundamentais na história do esporte sergipano. Um final melancólico, repleto de agressões físicas e verbais por parte dos jogadores, em um horário pouco atraente e com as arquibancadas vazias, em contraste com as tardes pulsantes da época do antigo Adolpho Rollemberg e do Estádio de Aracaju. Há de se lembrar que o Vasco não havia sido rebaixado no estadual de 1999, mas os seus dirigentes alegaram dificuldades para manter o futebol profissional, retirando-se da competição no ano 2000.
A última partida entre Sergipe e Vasco, realizada no João Hora, marcada pela briga em campo. Hugo Henrique foi o último jogador a balançar as redes no clássico. 

Clima quente no último Sergipe x Vasco.

Fontes:
VIANA FILHO, Francisco. Crônica Esportiva;
Jornal A Gazeta de Sergipe;
Jornal A República.

Um comentário:

  1. Clássico fenomenal e resta a tristeza e decepção dos torcedores do Vasco Esporte Clube.
    Quando voltara o Vasco Esporte Clube?

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