domingo, 9 de junho de 2019

EM QUE PONTO PARAMOS?


Por Gustavo Tenório

Mais um ano e nada muda: campeonato sergipano em seu revezamento de sucesso e de tragédia (desta vez, uma tragédia anunciada); copa do nordeste com uma única vitória em meio a um sem fim de derrotas vexatórias; copa do Brasil e a eliminação relâmpago de sempre; e a velha ilusão de um acesso no campeonato brasileiro da série D, em que sequer passamos da primeira fase. Já viu esse filme? Eu já. A torcida rubra também já. Ano após ano, uma sina insistente, interminável: a estagnação na inferioridade.

(Foto: Wendell Rezende/Mandacaru)


Ah, o cruel destino de ser colorado nos tempos de hoje! Olhamos para os nossos vizinhos e vemos aquele velho conhecido de série D, o CSA, na elite do futebol brasileiro. Um time que chegou ao mais fundo do poço, a segundona do campeonato alagoano, mas que ousou voar ao ponto mais alto do futebol nacional. Ainda em Alagoas, o CRB e sua assiduidade na série B do brasileiro. Não se esqueça do ASA de Arapiraca, que também frequentou, com certa frequência, a segunda divisão nacional. Não parece ser uma realidade tão inalcançável, à primeira vista. Nas ruas de Maceió, é comum ver inúmeros cidadãos trajando os uniformes de CSA e de CRB. Vez ou outra, em uma viagem de UBER, uma bandeirinha de um dos clubes a ornar o carro. É bem comum. É uma constante. Também temos torcedores apaixonados e orgulhosos. Ainda que esse orgulho seja teimoso.
Um olhar mais atento para a história do Club Sportivo Sergipe deixa o torcedor consternado com o presente da instituição. Um Club que tinha o poder de cativar e de agregar cidadãos de todo o estado em sua sede, nos estádios e na boca do povo, hoje amarga um público minguado nas arquibancadas e nos eventos no João Hora. É uma crônica amargurada, em clima de velório, meu caro torcedor. Mas como não sê-la neste fatídico junho de 2019? A propósito, neste ano em que o Sergipe completa seus 110 anos de lutas, de glórias e de frustrações também!?
O segundo semestre já se anunciou com uma novidade um tanto quanto inusitada: o Club participará da série B do campeonato sergipano. Sim, amigos colorados: da segundona do estadual. Ao que parece, com um time alternativo, com jogadores da base, do sub-23. Sendo frio, realista e, inconsequentemente, otimista, poderá ser uma boa experiência para os jovens atletas que, provavelmente, formarão a base da equipe para a temporada do ano que virá. Chegamos ao ponto de esta situação ser crível como razoável. Não digo ideal, nem maravilhosa. Mas razoável. Simplesmente.
No entanto, esse cenário não é exclusivo do Sergipe. Também a Associação Olímpica de Itabaiana terá uma equipe disputando a segundona do sergipano – até o rabisco desse texto, a Olímpica possui claras chances de classificação para a próxima fase do campeonato brasileiro da série D, enquanto já nos despedimos da competição com uma melancólica derrota para o Coruripe (mais um alagoano!) em pleno Batistão. Nada glorioso, diga-se, ter esse rival na mesma situação. Mas a realidade do futebol sergipano, de um modo geral, levou-nos a esse (des)encontro inusitado. Nem mesmo o nosso maior rival, ainda que não tenha chegado a esse ponto, encontra-se em posição favorável. Também suas arquibancadas se mostram vazias e suas campanhas não conseguem louros mais gloriosos. Mas a permanência na série C do brasileiro lhes dão uma posição menos trágica.
Futebol – hoje mais do que nunca, em razão de sua mercantilização – precisa de torcedores. O torcedor fica entre consumidor e apaixonado – a expressão se dá por ausência de outra mais precisa, ou ideal. Mas que não seja um consumista cego e que supere uma paixão cega e conformada. O Sergipe e os times sergipanos precisam deixar de ser coisa folclórica e pitoresca: dizer que torce para um time por apenas dizer que possui um time em sua terra natal. E nada mais. É realmente triste ver bares assiduamente lotados e barulhentos em razão dos times do Rio de Janeiro e de São Paulo em Aracaju, enquanto o Batistão, cuja capacidade é entre catorze e quinze mil torcedores, sofre para botar 2 mil torcedores em jogos do Sergipe ou do Confiança – ainda que em prélios clássicos o número salte para sete, oito, nove mil torcedores.

Como fazer o Sergipe interessante e atrativo? Como trazer de volta a torcida para o João Hora e para o Batistão? Por que não tratar o Sergipe como uma instituição coesa e sólida, ao invés de um patrimônio “privado”? Estes são os desafios da nova diretoria, que se promete moderna, profissional e diferente. Que o sonho dos jovens de 1909 não demore a se tornar realidade.

Um comentário:

  1. Parabéns Gustavo só falou verdades 👏🏾 👏🏾 👏🏾 👏🏾 👏🏾

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