Das
águas que banham a cidade aos campos que cativam o estado, um
gigante atravessa o tempo presente nos mais variados cenários da
nossa história. Como um ancião que preserva os contos da vida de um
povo ou um jovem que se atreve a se aventurar pela longa trilha a sua
frente, o Club Sportivo Sergipe chega aos seus 110 anos como um
glorioso patrimônio da nossa gente, mas com a necessidade de mais
uma vez se reinventar.
Por Davi Tenório
Foto obtida do Acervo do ex-jogador Delmar |
Houve
um tempo em que não se havia tempo para bobagens como o “sport”.
Para grande parcela da população (até hoje) era preciso desde cedo
trabalhar. Foi justamente nesse cenário do início do século
passado que o nosso Club foi fundado, por jovens rapazes de famílias
ligadas ao comércio da cidade. No entanto, o Sergipe transcendeu a
esse fato. A adoção do futebol geraria uma das maiores revoluções
na história do clube e no cotidiano da cidade.
Os jovens remadores do Club Sportivo Sergipe no ano de 1913 (Hemeroteca Digital da BN) |
A
inevitável virada na conjuntura do clube passou pelos pés e pela
cabeça de um humilde contínuo (“office-boy” nos dias atuais),
negro, chamado Roque. O rapaz que diferia dos demais moços
esportistas da época aproveitava o tempo fora do trabalho para se
tornar o autor do primeiro gol, o responsável pela primeira êxtase
no instante em que pela primeira vez a bola balançou as redes em
nossa cidade. Há mais de cem anos, o nosso primeiro ídolo mostrou o
que realmente era ser Club Sportivo Sergipe.
Uma das primeiras formações do time de futebol do Sergipe. Ao centro o primeiro ídolo do clube: Alfredo ROQUE Coutinho. (Revista Fon Fon ed. 29 do ano de 1917) |
O
talento e a garra de Roque fez nascer o clube do povo. Nos gramados
passaram a jogar inúmeros filhos da terra que aumentavam a
representatividade do clube diante dos adversários que importavam
levas de jogadores de outros estados. Desses locais também chegavam
fortes equipes para duelos que imortalizaram o clube rubro como o
“Derrubador de Campeões”. Por outro lado, o Sergipe também
estava aberto para receber e bem tratar aqueles que vinham criar
laços em nossa terra. Prova disso é que somos o primeiro clube a
ter um estrangeiro em seu elenco, assim como o primeiro e único a
disputar jogos internacionais.
Fora
de campo, a sua antiga sede na Rua da Frente acolhia sem distinção
sergipanos que transitavam na mais importante via da cidade, seja
para compor seu quadro de sócios, seja para se juntar aos bailes da
festa mais genuinamente brasileira dos carnavais de fevereiro. Até
mesmo nos momentos mais penosos, esses fiéis torcedores se fizeram
presentes, construíram tijolo por tijolo uma nova casa que até hoje
é o reduto de afeiçoados colorados que não se cansam de apoiar o
seu velho clube.
Baile de carnaval na antiga sede do Mais Querido na Rua da Frente (Jornal Gazeta de Sergipe) |
É
bem verdade que esse gigante anda adormecido. Todavia, há em suas
páginas e na memória da sua apaixonada torcida a fórmula que o fez
protagonista do esporte sergipano. Que venham mais 110 anos de
epopeia rubra!
João Hora lotado no primeiro jogo noturno de sua história (Facebook oficial do clube) |
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