Dando sequência a nossa
série sobre craques que marcaram época com o manto rubro, retornaremos aos anos
1960, desta vez para contar a história de uma jovem revelação, com talento no
sangue e maestria nos pés, que estourou logo de cara no futebol sergipano: Luís
César Dantas Nascimento, ou simplesmente “César”.
Por Davi Tenório
A jovem revelação César com a camisa do Sergipe no ano de 1965. |
No final da década de 50
e início de 60, os jovens aracajuanos arriscavam as suas primeiras jogadas nos
campos e nas quadras de futsal. O antigo Adolpho Rollemberg já não era o grande
palco do futebol sergipano desde a construção do Estádio de Aracaju e a deterioração
das suas arquibancadas. No entanto, o futebol ainda respirava na antiga cancha
com os constantes treinos dos seus proprietários, Sergipe e Cotinguiba, e as constantes
peladas organizadas no local. Por outro lado, os clubes sociais e esportivos
passaram a ser palco de uma nova febre entre os aracajuanos: o futsal. Era
grande o número dos interessados pelos duelos nas quadras da Atlética, Iate e
Cotinguiba, principalmente quando as equipes do River Plate e do Iate se
enfrentavam.
Em meio a esse caldeirão
esportivo, mais precisamente na rua Dom José Thomas, aquela mesma rua que dá de
cara à entrada colorada do Batistão, entre as ruas Duque de Caxias e Campos, o
filho de Manoel Felizardo do Nascimento, o lendário meia dos anos 40 e
presidente do Sergipe na década de 50, Pirricha, mostrava as suas habilidades
herdadas do pai. Inicialmente, fora levado ao Cotinguiba pelo saudoso Orlando
Rezende, ao mesmo tempo em que disputava os torneios de futsal pelo River
Plate.
Equipe do Cotinguiba do ano de 1941 com destaque para o meia Pirricha, pai de César. (Jornal Sport Illustrado) |
O sucesso nas quadras e
nos gramados logo despertaram a atenção da dupla Sergipe e Confiança pelo seu
passe. Após a conquista do estadual de 1964, o meia Elcy, estrela do Mais Querido
no torneio, havia retornado de empréstimo ao Náutico, deixando o Sergipe sem
referência em seu meio de campo. Ao mesmo tempo, o Confiança buscava se
reforçar após falhar em sua busca pelo tricampeonato em 1964. Sendo assim, os
dirigentes azulinos ofereceram um alto salário ao jovem talento de apenas 17
anos, composto de 50 mil cruzeiros mensais, meio milhão de luvas, uma função
bancária e passe livre. No entanto, a sua paixão pelo Sergipe falou mais alto,
assinando com o clube em janeiro de 1965. Logo de cara, estreou como titular em
um amistoso contra o Corinthians de Rivelino e Luizinho “Pequeno Polegar”.
Apesar da derrota, o jovem meia fez uma bela partida, chamando a atenção
inclusive do técnico Oswaldo Brandão, que o sondou em uma de diversas sondagens, assim como períodos de experiência, de grandes equipes de fora, como o Vasco, o Santos, o próprio Corinthians, Náutico e até
mesmo o Académica de Coimbra.
Sergipe Jornal, ed. 26 fev. 1965 destacando a contratação do jovem César pelo Sergipe. |
Após a grande atuação
contra os paulistas, César se consolidou como titular em uma talentosa equipe
composta por Gilton, Dodó, Edgar, Vidal e Jorge; César e Madureira; Bel, Tomaz,
Baiano e Robertinho. Essa formação rubra foi responsável pela conquista da Taça
São Francisco, disputada entre Sergipe, Santa Cruz de Estância, CRB e CSA. Os
destaques da campanha foram as vitórias sobre o CRB por 2 a 1, em pleno Estádio
da Pajussara, e o triunfo por 3 a 1 sobre o Santa Cruz em Aracaju, que culminou
na conquista do torneio.
Apesar de não ter
conquistado nenhum campeonato sergipano em sua breve passagem pelo Sergipe
entre 1965 e 1967, César apresentou elevada técnica nas partidas em que jogou
pelo então clube da avenida Ivo Prado. Dentre os jogos memoráveis, o craque
rubro jamais esquece a vitória sobre o Bangu, então campeão carioca, que
excursionava invicto pelo país. Diante de grandes nomes como Ubirajara, Jaime,
Cabralzinho, Paulo Borges e Aladim, o Sergipe não se amedrontou e dominou o
campeão carioca em campo, com a elegância de um meio de campo formado por César
e Zé Pequeno e os gols do artilheiro Fernando e Joel. Com essa histórica
vitória por 2 a 0, o Club Sportivo Sergipe mais uma vez comprovou o seu apelido
de “O Derrubador de Campeões”.
Ao mesmo tempo em que
seguia sua paixão pelo futebol, César também seguia os conselhos da sua mãe,
que não via com bons olhos a carreira futebolística, e, assim, decidiu prestar
o vestibular de medicina em Salvador obtendo a aprovação no ano de 1968. Na
capital baiana, César assinou contrato com o Bahia, chegando a disputar duas
partidas pelo tricolor. No entanto, a rotina de estudos não apresentava
compatibilidade com os treinos e jogos. Com isso, César decidiu finalizar a sua
curta carreira nos gramados. Atualmente, o ex-meia rubro vive em Salvador,
cidade em que construiu uma apaixonada carreira na medicina, atuando em
clínicas e hospitais e, principalmente, nas salas de aula. Até hoje, César
guarda com carinho as lembranças das ruas Campos e Duque de Caxias, o velho
Adolpho, as histórias do seu pai e as grandes atuações. Recentemente, visitou o
Memorial do clube no Estádio João Hora, quando doou um valioso álbum contendo
relatos sobre a sua carreira e as suas jogadas.
O hoje médico e professor aposentado da UFBA, César, após uma prosa com a nossa equipe. |
Nós do Almanaque do Gipão
agradecemos por ter vestido o manto colorado com imensa maestria e pela
prazerosa conversa.
Fontes:
Sergipe Jornal, ed. 26
fev. 1965;
Gazeta de Sergipe, ed. 28
jan. 1965 e 18 fev. 1965;
Jornal do Brasil, ed. 18
de jul. 1967
Um bate-papo com o próprio
César em julho de 2020;
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