sexta-feira, 24 de julho de 2020

JOÃO HORA: O HOMEM E O SEU TEMPO


 Por Gustavo Tenório

Os históricos dirigentes rubros, João Hora de Oliveira, à esquerda, e Zoroastro Rodrigues, à direita, erguendo a mais cobiçada taça da história do futebol sergipano: a Dinhô Melo. (Foto Acervo da Família Hora / Colorização: Davi Tenório - Almanaque do Gipão).


Ao longo da história centenária do Club Sportivo Sergipe, um dos nomes que mais reluzem no imaginário da torcida rubra sem dúvida é o de João Hora de Oliveira. Sergipano, nascido em Riachão do Dantas em 22 de dezembro de 1906 (quase três anos antes do seu clube de coração), João Hora foi um importante comerciante do ramo de confecções. Foi proprietário de uma famosa loja localizada na rua João Pessoa, no centro de Aracaju, chamada “A Moda”. Outro fato curioso da vida do ex-presidente é que o primeiro prédio comercial construído na capital sergipana, o edifício Mayara, inaugurado no ano de 1951, foi um empreendimento seu, sendo ele, assim, um dos pioneiros da construção civil no estado – inclusive, o edifício ainda existe e pode ser encontrado no cruzamento das ruas João Pessoa e Laranjeiras. Ele foi, sem dúvida, um dos maiores empresários sergipanos de sua época. Além de seus empreendimentos sociais e empresariais, teve também participação na fundação da extinta Associação Atlética de Sergipe, clube social que fez parte da história de Aracaju. No entanto, foi pelo Club Sportivo Sergipe que seu coração pulsou mais forte e sua vida se viu mais atrelada.

A perenidade de seu nome na história do Vermelhinho percorre a sua contribuição e serviços prestados ao clube e, de fato, consagra-se com o batismo do estádio e do complexo esportivo com seu nome. João Hora esteve à frente da gestão do Sergipe em seis oportunidades. Em sua gestão, o Gipão conquistou vários campeonatos estaduais de futebol e muitas conquistas nas regatas.

Trio de peso na história rubra: Jefferson Silva, pioneiro na crônica esportiva no estado, fundou a primeira publicação impressa voltada exclusivamente ao esporte em Sergipe, e ex-dirigente rubro; Zoroastro Rodrigues, o "Zozó", grande comerciante que ocupou diversos cargos diretivos no clube por mais de três décadas; e João Hora de Oliveira, também comerciante e histórico dirigente rubro. Todos ocuparam o cargo de presidente do Club Sportivo Sergipe. (Foto: Jornal Sport Illustrado, ed. 193. ano 1941).


João Hora foi, antes de tudo, um colorado de corpo e alma. Batalhou e trabalhou com muito ardor em prol da causa rubra, sendo um dos grandes entusiastas e idealizadores da construção de um estádio próprio para o Sergipe. Vale dizer que teve a sorte e a honra de ver a grande homenagem de ter seu nome batizando a Casa Rubra ainda em vida, em 26 de julho de 1970. Além disso, teve o prazer de ver as taças do tricampeonato sergipano de 1970, 71 e 72 e as do bicampeonato em 1974 e 75 serem levadas ao panteão de glórias do Estádio João Hora de Oliveira.

Título de Sócio Benemérito de João Hora de Oliveira, ano de 1948. (Memorial Nivaldo Barros do Club Sportivo Sergipe)


A falta de um espaço para treinamento da equipe de futebol era algo que angustiava e incomodava bastante João Hora. Antes da construção do complexo esportivo, o Sergipe dividia o campo do Adolfo Rollemberg com a equipe do Cotinguiba. Eram constantes os choques de horário entre os dois times na utilização do espaço, o que comprometia a preparação dos jogadores e, consequentemente, o rendimento nos campeonatos que disputava. A única solução possível era o Club Sportivo Sergipe ter o seu próprio centro de treinamento. João Hora foi um grande idealizador, além de possibilitar a criação do complexo esportivo e estádio batizado com o seu nome. Aliás, há de se dizer que a importância não se deu apenas para o clube, mas para a própria cidade, que viu expandida a sua urbanização na região do Siqueira Campos e adjacências. 

Jornal Gazeta de Sergipe de 12 jul. 1963 destacando a promoção de títulos patrimoniais para a construção do novo estádio, com destaque para a liderança exercida por João Hora no empreendimento rubro.


Há uma série de passagens curiosíssimas de sua vida. Um de seus netos, o conselheiro Beto Hora, lembra que, em certa ocasião, quando João Hora realizava suas caminhadas diárias pela "Rua da Frente", ao se deparar com as janelas da sala de troféus do clube escancaradas em tempos de fortes invernadas, quando o céu diariamente promete tempestades  à cidade, escrevera uma carta direcionada ao presidente do clube à época solicitando o cuidado de manter as janelas fechadas de modo a não estragar os troféus e demais objetos dentro do salão. Seu zelo com o patrimônio do clube foi algo atestado em cartas (conservadas e mantidas no Memorial "Nivaldo Barros" do Club Sportivo Sergipe) e na memória de quem o conheceu e com ele conviveu.

O patrono João Hora de Oliveira (Foto: Acervo da Família Hora)

Infelizmente, numa noite de 9 de agosto de 1977, aos 71 anos de idade, nosso Patrono deixou esse plano para a eternidade. No entanto, seu legado e sua memória permanecerão na história do Sergipe. Aliás, também para a cidade de Aracaju, pois não há dúvida de que o endereço mais importante e mais famoso da Avenida da Linha de Trem, a antiga Avenida Rio de Janeiro, e atual Avenida Augusto Franco, tem o seu nome: Estádio e Complexo Esportivo João Hora de Oliveira, a casa do Club Sportivo Sergipe.

 
Uma série de homenagens do clube e da imprensa foram prestadas após o falecimento de um dos maiores desportistas da história rubra (Gazeta de Sergipe ed. 10 ago. 1977)
Estádio João Hora de Oliveira (Foto: Davi Tenório)

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