Por Gustavo Tenório
Ao longo da história
centenária do Club Sportivo Sergipe, um dos nomes que mais reluzem no
imaginário da torcida rubra sem dúvida é o de João Hora de Oliveira. Sergipano,
nascido em Riachão do Dantas em 22 de dezembro de 1906 (quase três anos antes
do seu clube de coração), João Hora foi um importante comerciante do ramo de
confecções. Foi proprietário de uma famosa loja localizada na rua João Pessoa,
no centro de Aracaju, chamada “A Moda”. Outro fato curioso da vida do
ex-presidente é que o primeiro prédio comercial construído na capital
sergipana, o edifício Mayara, inaugurado no ano de 1951, foi um empreendimento
seu, sendo ele, assim, um dos pioneiros da construção civil no estado –
inclusive, o edifício ainda existe e pode ser encontrado no cruzamento das ruas
João Pessoa e Laranjeiras. Ele foi, sem dúvida, um dos maiores empresários
sergipanos de sua época. Além de seus empreendimentos sociais e empresariais, teve
também participação na fundação da extinta Associação Atlética de Sergipe,
clube social que fez parte da história de Aracaju. No entanto, foi pelo Club
Sportivo Sergipe que seu coração pulsou mais forte e sua vida se viu mais
atrelada.
A perenidade de seu nome
na história do Vermelhinho percorre a sua contribuição e serviços prestados ao
clube e, de fato, consagra-se com o batismo do estádio e do complexo esportivo
com seu nome. João Hora esteve à frente da gestão do Sergipe em seis
oportunidades. Em sua gestão, o Gipão conquistou vários campeonatos estaduais de
futebol e muitas conquistas nas regatas.
João Hora foi, antes de
tudo, um colorado de corpo e alma. Batalhou e trabalhou com muito ardor em prol
da causa rubra, sendo um dos grandes entusiastas e idealizadores da construção
de um estádio próprio para o Sergipe. Vale dizer que teve a sorte e a honra de
ver a grande homenagem de ter seu nome batizando a Casa Rubra ainda em vida, em
26 de julho de 1970. Além disso, teve o prazer de ver as taças do tricampeonato
sergipano de 1970, 71 e 72 e as do bicampeonato em 1974 e 75 serem levadas ao
panteão de glórias do Estádio João Hora de Oliveira.
Título de Sócio Benemérito de João Hora de Oliveira, ano de 1948. (Memorial Nivaldo Barros do Club Sportivo Sergipe) |
A falta de um espaço para
treinamento da equipe de futebol era algo que angustiava e incomodava bastante
João Hora. Antes da construção do complexo esportivo, o Sergipe dividia o campo
do Adolfo Rollemberg com a equipe do Cotinguiba. Eram constantes os choques de
horário entre os dois times na utilização do espaço, o que comprometia a
preparação dos jogadores e, consequentemente, o rendimento nos campeonatos que
disputava. A única solução possível era o Club Sportivo Sergipe ter o seu
próprio centro de treinamento. João Hora foi um grande idealizador, além de
possibilitar a criação do complexo esportivo e estádio batizado com o seu nome.
Aliás, há de se dizer que a importância não se deu apenas para o clube, mas
para a própria cidade, que viu expandida a sua urbanização na região do
Siqueira Campos e adjacências.
Jornal Gazeta de Sergipe de 12 jul. 1963 destacando a promoção de títulos patrimoniais para a construção do novo estádio, com destaque para a liderança exercida por João Hora no empreendimento rubro. |
Há uma série de passagens
curiosíssimas de sua vida. Um de seus netos, o conselheiro Beto Hora, lembra
que, em certa ocasião, quando João Hora realizava suas caminhadas diárias pela
"Rua da Frente", ao se deparar com as janelas da sala de troféus do clube
escancaradas em tempos de fortes invernadas, quando o céu diariamente promete
tempestades à cidade, escrevera uma
carta direcionada ao presidente do clube à época solicitando o cuidado de
manter as janelas fechadas de modo a não estragar os troféus e demais objetos
dentro do salão. Seu zelo com o patrimônio do clube foi algo atestado em cartas
(conservadas e mantidas no Memorial "Nivaldo Barros" do Club Sportivo Sergipe) e na memória de quem o conheceu e com ele
conviveu.
O patrono João Hora de Oliveira (Foto: Acervo da Família Hora) |
Infelizmente, numa noite
de 9 de agosto de 1977, aos 71 anos de idade, nosso Patrono deixou esse plano para
a eternidade. No entanto, seu legado e sua memória permanecerão na história do
Sergipe. Aliás, também para a cidade de Aracaju, pois não há dúvida de que o
endereço mais importante e mais famoso da Avenida da Linha de Trem, a antiga
Avenida Rio de Janeiro, e atual Avenida Augusto Franco, tem o seu nome: Estádio
e Complexo Esportivo João Hora de Oliveira, a casa do Club Sportivo Sergipe.
Uma série de homenagens do clube e da imprensa foram prestadas após o falecimento de um dos maiores desportistas da história rubra (Gazeta de Sergipe ed. 10 ago. 1977) |
Estádio João Hora de Oliveira (Foto: Davi Tenório) |
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