quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Um papo com o Almanaque: entrevista com o goleiro Marcão

 

A História Rubra é escrita de forma constante e ininterrupta. Nem sempre nos tocamos quanto às peculiaridades do momento atual. Sem sombras de dúvidas, o ano de 2020 já está marcado como um dos mais desafiantes da história humana. Quando observamos o mundo esportivo, notam-se os casos de inúmeros atletas e demais profissionais que se arriscam em meio às incertezas e adversidades desse contexto. Já quando analisamos o que se passou no Club Sportivo Sergipe neste ano atípico, recordamos com orgulho a força que o Mais Querido apresentou para remar em águas revoltas e ultrapassar gigantes desafios. Não poderíamos, assim, deixar de registrar mais um capítulo da epopeia rubra. Não falaremos agora de títulos, mas de uma etapa de um processo de reinvenção do nosso clube diante de inúmeros obstáculos. Há muito que melhorar, mas neste capítulo inicial provamos que o Sergipe nunca estará abatido. 

 Por Davi Tenório

Foto: Wendell Rezende/O Mandacaru


Sendo assim, nós do Almanaque do Gipão aproveitamos para conversar um pouco com o capitão dessa equipe que enfrentou um dos maiores desafios da História Rubra, o goleiro Marcão. Após uma marcante passagem no ano de 2012, quando operou verdadeiros milagres na arrancada que nos livrou de uma tragédia no estadual, o nosso paredão voltou a vestir a camisa rubra para ser um dos líderes em um momento de reconstrução do Mais Querido. Diante das maiores adversidades, o nosso capitão jamais abriu mão do nosso clube. Além de grandes atuações que o consagraram como Craque do Campeonato, Marcão demonstrou espírito de liderança e de união no grupo. Conheça agora um pouco dessa história. 

 
O então zagueiro Marcão, o quarto em pé, na época da escolinha do Laranjeiras na cidade de Serra-ES. (Acervo Pessoal)

AG - Conte-nos um pouco sobre seus primeiros passos no futebol e as pessoas que foram fundamentais nesse processo?

Marcão – Eu comecei numa escolinha do Espírito Santo chamada Laranjeiras, jogava como zagueiro. Meus pais me apoiaram bastante em relação a isso. Nessa época eu era o mais alto da escolinha. Certo dia faltou um goleiro e eu fui para o gol. Bom, meu pai sempre foi goleiro nas peladas de fim de semana, no time da família, eu meio que peguei esse dom dele. Aí, fui para o gol e de lá não saí mais, fiz uma partida muito boa nesse dia. Outra escolinha, a AERT, muito famosa no Espírito Santo, ligada à Vale do Rio Doce, acabou me chamando para jogar lá. Com pouco tempo de escolinha, fizemos uma competição em Minas Gerais. Ali, o Cruzeiro me convidou para um teste, fiquei 15 dias na Toca da Raposa, mas não fui aprovado. Voltei para Vitória e continuei no AERT. Logo em seguida, houve outra competição que o Vitória da Bahia me viu. Então, em agosto de 2001, se eu não me engano, fui com meu pai para Salvador, fiz mais um teste e fui aprovado. Consegui me firmar, o Vitória gostou de mim pra caramba e foi onde fiquei dez anos na minha carreira. Eu fiz a base toda no Vitória, o infantil, o juvenil e o profissional. Colecionei títulos na base, inclusive de torneios em países como a Holanda e a Alemanha. Conquistei títulos do Campeonato Baiano, Brasileiro Infantil e Juvenil. Então, eu consegui colecionar uma experiência muito boa na base do Vitória e a base dela era reconhecida por revelar muitos goleiros. Conheci muitos treinadores bons, que hoje são muito consagrados. Então, devo muito a eles, a essas pessoas que se eu for enumerar aqui vou falar de várias e vou acabar esquecendo de algumas. Porém, não posso esquecer a minha família, meu pai e minha mãe que me apoiaram muito, já que naquela época era muito difícil ficar em concentração. Naquela época não existia “internet”, não era tão fácil manter contato com eles como hoje, já que fazer ligação era algo caro. Eu sempre fui apegado a minha família, senti muito isso, mas graças a Deus e a eles eu pude concretizar meu sonho de fazer a base, o profissional e depois consolidar a carreira até hoje.

 

Marcão passou 10 anos da escolinha ao profissional do Vitória conquistando inúmeros títulos em competições de base. (Foto: Acervo Pessoal)
 

AG – E como seguiu a sua carreira após deixar o Vitória até chegar ao Sergipe?

Marcão Eu comecei a rodar. Em 2009, eu joguei o campeonato baiano emprestado ao Ipitanga, depois fui ao Serra jogar o Capixaba. Em 2010, eu fui ao Fluminense de Feira de Santana jogar o Baiano. Em 2011, joguei o Capixabão pelo Rio Branco e depois fui ao Juazeiro, onde fiquei até 2012. Nesse momento surgiu a oportunidade de jogar no Sergipe, que fez uma proposta para mim e para dois zagueiros: Leonardo e Itamar. Naquele momento eu não conhecia o Sergipe. Passei a pesquisar a história do clube e vi que era um time com muita história, time grande, com camisa e torcida apaixonada. Quando cheguei, estava num momento ruim, era quase 90% de chances matemáticas de cair. Cheguei a minha esposa e falei que “será um dos maiores desafios da minha carreira, que  pegaria um time de camisa com uma torcida muito exigente, com risco de cair no estadual, então se prepare que vai ser muita pressão”. Quando cheguei ao Sergipe foi um amor a primeira vista. Lembro que o primeiro jogo tomamos 4 ou 5 do River, eu não joguei essa partida, fiquei no banco junto com o Itamar. A minha estreia foi em Porto da Folha contra o Guarany, e não podia perder mais dali pra frente, se não caía. Foi ali que teve aquela arrancada fenomenal. Foi justamente aquele jogo que vencemos por 1 a 0 e o gandula tirou a bola em cima da linha do gol. Ali foi amor a primeira vista, quando entrei naquele estádio, a torcida saiu de Aracaju e lotou o espaço de visitantes em Porto da Folha, apoiando a gente. Depois fui jogar no Batistão cheio, jogos em Lagarto... Até hoje falo dessa arrancada e fico arrepiado. Talvez há alguns torcedores que não lembram, mas para aqueles que lembram foi talvez a história recente do Sergipe que vale a pena contar, vale a pena repetir. Porque logo em seguida dessa arrancada épica o time foi campeão em 2013, acho que isso se deve muito a 2012. Em seguida, eu saí após a Copa Governador do Estado. Voltei ao Juazeiro, fui eleito o melhor goleiro do Campeonato Baiano de 2013, quando ficamos em 4º lugar no estadual. Depois fui para o ASA de Arapiraca onde joguei três temporadas, jogando até Série B. Fui para o Paysandu, onde fiquei umas quatro temporadas, Macaé e depois voltei para o ASA no ano passado onde joguei Estadual, Copa do Brasil e Série D. Agora, neste ano tive a oportunidade de voltar para o Sergipe. Ao longo desses anos tinha pessoas do Sergipe que me ligavam, mas não tinha como voltar. Mantive o contato e graças a Deus neste ano deu certo, mas que ficou devendo o título. 

 

Época em que a garotada da base trabalhava como gandula em jogos do Barradão. Na ocasião, Marcão como chefe dos gandulas aproveitou para tirar uma foto com o técnico Vanderlei Luxemburgo no ano de 2003. (Foto: Acervo Pessoal)

 

AG Sobre a sua primeira passagem pelo Sergipe em 2012, aquela partida contra o Itabaiana fora de casa pode ser considerada a sua maior atuação pelo clube?

Marcão Acho que pela importância do jogo, porque se a gente empatasse ou perdesse o time cairia pra segunda divisão, podemos considerar a maior. Foi uma das minhas atuações que mais me deixou sem palavras. Uma atuação magnífica, tudo deu certo. Lembro que na última bola, já no final do jogo, enquanto estava 1 a 0 pra gente, houve uma falta lateral. O cara bateu na área, e o gramado não estava bom, o gol estava cheio de terra e areia. O cara cruzou na área, a bola desviou no primeiro pau e foi no cantinho. Fui lá e tirei ela. Algumas pessoas falam que ali foi a “mão de Deus”, pois se a bola entrasse o Sergipe cairia pra segunda divisão. Acho que pelo todo o contexto, foi a partida mais marcante que tive com a camisa do Sergipe até hoje. Claro que neste ano eu fiz muitas boas partidas, mas aquela de 2012 foi muito marcante. 

Marcão durante a heroica atuação diante do Itabaiana no ano de 2012. (Foto: Globoesporte.com/se)

AG Ainda sobre a campanha de 2012, qual você considera o fator determinante para o time ter feito aquela reviravolta no campeonato?

Marcão Então, a união. Quando eu cheguei no Sergipe eu encontrei um grupo muito rachado. Os jogadores estavam metade de um lado, metade para o outro. Lembro que falei a dois amigos meus, que foram Itamar e Leonardo: “vamos ter muito trabalho aqui, a gente precisa tirar o time dessa situação”. Fizemos muitas reuniões, conversamos muito com os caras, falamos da situação, que seria ruim para todo mundo se o time caísse. A partir do momento que todo mundo entendeu aquilo, os resultados foram consequências. A gente se fechou dentro do vestiário. O Pedro Costa teve papel fundamental nisso, ele conduziu o time muito bem. Nós conversávamos muito, até hoje eu tenho uma amizade muito grande com o Pedro Costa, a gente sempre relembra essa arrancada. Acho que o fator fundamental foi essa união, quando tivemos um só pensamento que era tirar o Sergipe da degola. A palavra-chave foi a união. 

 

Marcão defendendo uma cobrança de pênalti em um Re-Pa decisivo. (Foto: O Liberal)

AG Bom, em seguida você teve duas passagens marcantes pelo ASA e pelo Paysandu. Como elas ocorreram, principalmente a mudança para Belém e as conquistas da Copa Verde?

Marcão – Eu fui para o ASA, joguei a Série B e a Série C também. Lá tive uma história bem bonita, tenho uma identidade muito grande, já que foram 98 jogos pelo clube. São marcas bem expressivas, inclusive ganhei uma Copa Alagoas com eles. No Paysandu joguei 4 vezes a Série B, fui bicampeão paraense em 2016 e 2017, inclusive pegando pênaltis nas finais, com o Mangueirão completamente lotado. Salvo engano, eu peguei três cobranças, fomos campeões em cima do Remo. O Re-Pa é um dos maiores clássicos do mundo, um dos mais jogados no mundo. Eu tenho orgulho de ter participado desse clássico. Belém é uma cidade muito peculiar, tem uma gastronomia muito boa, é uma cidade que chove bastante, com clima muito úmido. Então, eu tive que me adaptar, era muito diferente de Arapiraca. Mas eu me adaptei muito rápido, sempre me adapto muito rápido aos lugares. Fui bicampeão da Copa Verde, uma competição nacional organizada pela CBF. Em 2018 fui campeão de novo. Tenho um carinho enorme pelo Paysandu, identificação boa, uma torcida muito apaixonada, muito parecida com a do Sergipe, que cobra bastante e que se deixar abrir o treino lota. É um povo que é muito apaixonado pelo futebol, é uma experiência para a vida inteira.

Só complementando, quando fomos campeões em 2016 foi um título inédito pro Pará. Ganhamos do Gama lá em Brasília e quando estávamos próximos ao aeroporto de Belém o piloto deu parabéns a equipe e disse para olharmos ao lado e que veríamos o mar azul embaixo. O que tinha de gente no aeroporto esperando a gente chegar... são memórias marcantes que ficam na memória da gente. 

 

(Foto: José Maria Marques)

AG - No final de 2019 a torcida colorada teve uma grata surpresa quando anunciaram a sua contratação. Mesmo com um clube sem calendário e desacreditado, você abraçou a proposta de retornar ao time para ser uma das referências em um contexto pouco animador. Como ocorreu essa proposta para voltar ao Sergipe e o que te motivou a aceitar o projeto?

Marcão Mesmo eu estando longe sempre acompanhei o Sergipe. Então, eu nunca deixei de assistir e de ver como estava o time e o clube. Em 2019, eu tive a oportunidade de conversar com o Chiquinho, que é o atual diretor de futebol. Na época ainda era torcedor. Ele conversou comigo, conversa de amigos mesmo, nada muito formal e surgiu a possibilidade. Ele disse “Marcão o que você acha de vir aqui e nos ajudar? Estamos montando uma chapa nova, com pessoas novas, pensamento bacana”. Eu perguntei “Chiquinho, quem compõe a chapa de vocês, quem são, qual o projeto de vocês?”. Ele me falou “Marcão, me dê uns dias aí, uns meses, que vou fazer um projeto bacana para 2020 junto com Ernan e o pessoal, e vamos voltar a se falar, mas não assina com ninguém não antes de conversar com a gente”. Bom, por consideração ao Chiquinho, que é um cara que conheci há bastante tempo, eu esperei. Foi quando ele me retornou, ele tinha contratado o analista de desempenho que foi do ASA, o Victor Silva, que é um profissional de uma qualidade incrível, e o Chiquinho me fez uma proposta. Foi muito rápido, eu disse que eu iria, independente de dinheiro. “Eu vou abraçar a causa, nós vamos conseguir calendário e tenho certeza que o Sergipe vai sair dessa situação”. Acho que foi questão de um dia, ou nem isso. O Ernan me ligou, conversou pra caramba comigo, falou a filosofia de trabalho dele e agradeceu muito por eu ter aceitado a proposta, ainda mais porque ele me viu jogar e contou algumas histórias, como daquele jogo em Itabaiana e disse que estava bem feliz. É um casamento que deu certo né e que pretendo continuar no ano que vem. 

Uma das suas grandes atuações no ano foi na partida contra o Dorense pela 1ª fase do estadual. (Foto: José Maria Marques)

AG - O ano de 2020 vem se demonstrando extremamente atípico e repleto de adversidades, não só no mundo esportivo, mas em todos os aspectos da vida. O clube, antes mesmo do início da pandemia, teve um começo conturbado com partidas amistosas pouco satisfatórias, troca de treinador, derrota em clássico e empate para o modesto Boca Junior em casa. No entanto, o clube soube virar a chave e engatar uma série de vitórias brigando rodada por rodada pela liderança. O que de fato proporcionou essa reviravolta no time?

Marcão – Desde o início da pré-temporada a gente se preocupou em fazer um vestiário forte, unido, que independente de qualquer situação que ocorresse permaneceríamos focados no objetivo de conseguir o calendário para o Sergipe. O nosso foco no Sergipe era conseguir o calendário, fazer o clube voltar ao cenário nacional. Naqueles amistosos a gente sabia que o time não estava preparado ainda. Sabíamos que iria faltar perna, a pré-temporada foi muito forte, a perna fica pesada. Enfrentamos times com jogadores acostumados a jogar aqui, enquanto tínhamos jogadores que nunca haviam jogado campeonato sergipano. Então, tínhamos que passar por essas situações para amadurecer. Claro, houve peças que foram embora, mas chegaram outras que ajudaram bastante. O Foiani chegou e ajeitou a casa, conseguiu dar cara ao time e ele tem parcela nessa reconstrução, vamos dizer assim. Mas, acho que como um todo, nós jogadores temos a nossa parcela, a comissão tem a sua parcela e a diretoria também. Acho que cada um dentro da sua área tem uma parcela de contribuição nessa arrancada. Um profissional que dou muito valor e que ajudou muito nessa arrancada, principalmente em momentos ruins, foi o Cleberson, que é o psicólogo. Esse cara foi fundamental, principalmente nesses momentos de troca de treinador, de empatar amistoso e de torcida cobrar resultado dentro do CT. Tudo isso devemos muito ao Cleberson. Eu e ele conversávamos muito, ainda mais pelo fato de eu ser o capitão do time, um dos líderes do time. Ele ajudou muito nisso. Esse profissional deve ser valorizado demais, já que se não fosse ele muitas coisas ali poderia ter saído fora dos trilhos e com a ajuda dele conseguimos contornar dentro do vestiário muitas situações do psicológico dos jogadores. A torcida do Sergipe cobra bastante, tem jogador que não é acostumado com isso, quando você tem apoio psicológico no clube ajuda demais. Ainda mais psicólogo que conhece a história do clube, que já foi jogador, que sabe como funciona a cabeça do jogador. Então todo mundo tem a sua parcela, nós jogadores, comissão, diretoria e, principalmente, na minha visão, o psicólogo Cleberson que foi um dos caras que mais teve trabalho nessa reconstrução do Sergipe neste ano. 

 

A virada sobre o Lagarto fora de casa foi uma demonstração da superação da equipe. (Foto: Wendell Rezende/ O Mandacaru)

AG - Infelizmente, houve a paralisação do campeonato no mês de março nas vésperas de um clássico. Em seguida, todos nós torcedores fomos surpreendidos com a triste notícia da rescisão contratual com todo o elenco e a comissão técnica. Como ocorreu esse desligamento, o que passou na sua cabeça naquele momento, ainda havia em você e em seus colegas alguma esperança de retornarem ao clube para finalizar o campeonato?

Marcão Acho que quando teve essa pandemia foi um momento de incertezas, né. Ninguém sabia o que iria acontecer e quanto tempo iria ficar. A gente conversava bastante. Até que chegou um momento em que paralisou o campeonato, Ernan reuniu todo mundo no João Hora e disse que não haveria condições de ter treino, pois o governo fecharia tudo e que até segunda ordem todo mundo teria que ir para casa. Eu fui pra casa, morava com minha família, os meninos foram para a casa do atleta. Até que no final da semana o Ernan chegou com a notícia que não haveria mais campeonato, a princípio, e que rescindiria o contrato de todo mundo porque não haveria condições de arcar com o custo de todos os jogadores até começar o campeonato, já que ninguém saberia quando retornaria e se teria campeonato. Na minha opinião, foi uma decisão acertada dele. Ele jogou muito limpo, como sempre jogou com a gente. Fez um acordo com a gente, honrou com o acordo que fez. Todos foram para casa e ficamos naquela situação né, “quando vai ser”, “quando irá voltar”. E quando começou esse burburinho de voltar o campeonato, alguns jogadores já haviam assinado com outros clubes, eu já tinha a proposta de dois clubes, mas segurei, pois, eu queria voltar. E quando Ernan me ligou eu falei “presidente, estou com a situação bem encaminhada, preciso que você me dê a resposta até tal dia, pois se não tiver o estadual eu vou optar para ir a outro lugar, mas se você me confirmar eu vou ficar com vocês, dou a palavra para você”. Eu e Ernan sempre jogamos limpo um com o outro, eu confio muito nele, ele confia muito em mim. No momento em que ele disse que iria ter a competição e o dia da apresentação, falei que poderia comprar a passagem que eu iria. Voltamos, conseguimos reunir alguns jogadores, conseguimos contratar outros jogadores que ajudaram muito também. E para mim, uma das sacadas que ele teve foi levar a gente para Carmópolis, ficou todo mundo preso lá. Foi muito bom porque nos fechamos mais, ficamos livres de ficar indo e voltando pra casa, nos conhecemos mais e construímos uma família. Ficamos 36 dias em uma pousada, passou rapidinho, todo mundo se respeitou e gostou. Tenho certeza que se o presidente ligar para todo mundo que estava lá, todos irão querer voltar para o Sergipe no ano que vem.

AG - Como foi encarar esse contexto de treinos restritos, protocolos de segurança, jogos sem público e decisões com pouco intervalo de tempo?

Marcão É muito diferente, nunca tinha passado numa situação dessa: ficar trancado em uma pousada, sem poder sair, só saía para treinar e pronto. É muito diferente, é muito complicado você ter treinos restritos, tomar muito cuidado com a higiene, passar álcool toda hora. Até porque não poderíamos pegar esse vírus, já que ficar fora por 15 dias era praticamente ficar fora da competição, tinha que tomar muito cuidado. Jogos sem público são horríveis, principalmente tratando-se do Sergipe que é a maior torcida do estado, a mais apaixonada, que com certeza faria a diferença nesse quadrangular final. É muito complicado jogar 3 a 4 jogos por semana, em quinze dias. Principalmente quando você está parado após quatro meses, então era se readequar a tudo. No final deu tudo certo, teve mais coisas positivas do que negativas. 

 

(Foto: Wendell Rezende/O Mandacaru)

AG - O Sergipe de 2020 iniciou bastante desacreditado. Quando o time engrenou e se consolidou como forte candidato ao título, houve um gigantesco baque com a pandemia do Coronavírus, a dispensa do elenco, a falta de recursos e local para treinamentos. Porém, retornamos e terminamos o campeonato alcançando grandes marcas como a de 13 jogos de invencibilidade, algo que o clube não alcançava desde 2013, das cinco vitórias consecutivas, como não ocorria desde 2014, as vagas na Copa do Brasil e na Série D na temporada 2021 e por pouco não conquistamos o campeonato, devido ao saldo de gols. Além disso, tivemos quatro jogadores na seleção do campeonato, o melhor treinador e, inclusive, o craque da competição. O que passa em sua cabeça após ter desempenhado o papel de capitão de uma clube que enfrentou alguns dos maiores obstáculos na sua centenária história, que mesmo com constantes adversidades demonstrou garra em campo e soube se recuperar para dar novos grandes passos?

Marcão O sentimento é o de dever cumprido. Conseguimos grandes marcas neste ano, igualamos grandes marcas também. O que foi proposto conseguimos, que era dar o calendário ao Sergipe para que ele voltasse ao cenário nacional. Conseguimos a vaga na Copa do Brasil que financeiramente é importante para o público. Eu estou muito feliz, pois foi me dada uma missão de conduzir esse barco e graças a Deus esse barco foi bem. Mesmo com toda a dificuldade do mundo, esse barco não afundou em nenhum momento, esse barco conseguiu manter uma rota até o final. Então, meu sentimento é de dever cumprido, a minha felicidade é imensa. Estou feliz por tudo que conseguimos e por tudo que consegui individualmente falando também, ser capitão de uma grande equipe, uma equipe com camisa e a maior torcida do estado. Não é fácil, porque além de ser cobrado em campo você também é cobrado fora de campo. Graças a Deus eu tive um discernimento muito grande em relação a isso, consegui conduzir bem com a faixa de capitão. O sentimento é de dever cumprido, essa é a palavra-chave. Pode ter certeza que em 2021 a cobrança vai ser muito maior e quem tiver no Sergipe em 2021 vai estar ciente que vai ter que fazer melhor do que foi feito em 2020. A torcida não irá aceitar menos que foi feito neste ano, vamos focar em título estadual, passar de fase na Copa do Brasil e, claro, o objetivo fundamental no ano que vem, que será o acesso para a Série C.

AG - Então, podemos contar com um retorno do nosso Paredão Colorado em breve?

Marcão Sim, sim. Tem que continuar esse projeto que me foi proposto neste ano, sem dúvida no ano que vem pretendo estar junto de vocês. 

 

(Arte: Matheus Barbudo/ Design Rubro)


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