quinta-feira, 31 de maio de 2018

HENÁGIO, O CRAQUE ETERNO


Por Gustavo Tenório.

Sabe aquele grande jogador que a sua idade não lhe permitiu ver em campo? Aquele que se origina de uma pergunta natural a ser feita a seu pai: “qual foi o maior jogador que o senhor viu jogar?”. Meu velho nasceu em 1964, num pequeno povoado de Japoatã chamado Poxim. Aos 11 anos de idade, mudou-se para Aracaju, em 1976, às vésperas dos seus 12 anos. Morou ora no Getúlio Vargas, ora no Siqueira Campos. Desde os tempos de roça acompanhava o Gipão no bom e velho radinho, essa invenção que conectou o Brasil aos Brasis profundos, muitos deles esquecidos.

Meu pai chegou ao Batistão em tempos em que o nosso rival se sagrou campeão, sendo sucedido por uma sequência fatigante de títulos do Itabaiana. Era o final da década de 1970. O Itabaiana conquistou um penta campeonato ininterrupto de 1978 a 1982 (dividindo este último conosco), dois deles sobre o Vermelhinho. O cenário não era nada bom. “Havia um centroavante muito bom no Gipão: Dão! Mas não conseguiu conquistar nada com o Sergipe”, costuma me dizer num tom frustrado.


No ano de 1982, no entanto, as coisas mudaram. Enfim, o Gipão saiu da fila de espera dos títulos ao montar uma equipe que entrou para a história. “Era um timaço!”, exclama sem qualquer lampejo de dúvida. Um esquadrão memorável, pelo que me conta. Nunca vi a equipe atuando, já que eu nasceria 7 anos após aquela conquista. Mas sei – não sei como – que foi o maior time que já vestiu a camisa do Sergipe. Mas, se você, leitor, ainda se lembra da indagação do começo do texto, quem foi o maior jogador que o meu pai viu jogar? 


Antes mesmo de eu terminar de fazer a pergunta, como que lendo-a em minha mente, meu pai responde: “Henágio!”, com uma exclamação convicta e irredutível, diga-se. Um verdadeiro craque. Daqueles que nasceram para ser protagonista. Driblador e de uma técnica apurada, Henágio foi a grande joia revelada pelo Sergipe no começo da década de 1980. “Eu matava aula no Costa e Silva para ver treino daquele time, esperando alguma jogadaça de Henágio. Pegava minha bicicleta, junto a alguns colegas, e ia ao João Hora”, fico imaginando.

Às vezes, tenho a impressão que estive presente em todos os jogos em que o Henágio atuou pelo Gipão no Batistão. Como se a cada drible dado por ele eu tivesse gritado um “olé!”; tivesse vibrado com cada jogada e com cada gol. É curioso. É a tal da memória afetiva passada de pai para filho. Uma espécie de lembrança não vivida – talvez um psicanalista explique melhor tudo isso.


É uma pena que não haja registros de vídeo do Henágio atuando com a camisa rubra. Mas deu para matar a curiosidade com algumas imagens dele pelo Santa Cruz de Recife e pelo Campinense. O cara, realmente, era o que eu imaginava. Não à tôa, é também ídolo da torcida coral, sempre escalado na “Equipe de Todos os Tempos” do Santinha.

Gostaria de ter uma máquina do tempo para voltar àquele passado e assistir a uma partida do Gipão do Henágio na geral com meu pai, cada um em sua bicicleta, tendo a sela da magrela como assento, encostados ao alambrado. Suspeito que a visão mais privilegiada do Batistão era a dos “geraldinos”, colado ao campo, bem perto dos jogadores.

Infelizmente, Henágio virou estrela antes do tempo. No entanto, mesmo que não esteja mais entre nós, suas atuações vivem nítidas na memória dos privilegiados torcedores rubros, corais e rubro-negros. Meu pai tem até uma camiseta com um desenho dele com uma frase mais do que pertinente: “HENÁGIO ETERNO!”, ainda que com apenas uma exclamação. Henágio vive. 

2 comentários:

  1. cara... Henágio foi meu colega de escola. Lembro dele abrindo um bornal e tirando uma bola, ao inves de um livro. E aí passava toda manha com Haroldo (que tb jogou pelo Sergipe) até se transferir para o Colégio Visão. Lá, estraçalhou nos Jogos Escolares e então Geraldão levou ambos para o JH... Um craque mesmo. Sergipe jogava e Henágio nos encantava com seus dribles curtos e desconsertantes. Lembro de um contra a defesa do antigo Olimpico do Bairro 18 do Forte... ele droblou todo mundo, inclusive o goleiro e esperou o zagueiro chegar para driba-lo de novo e fazer o gol.... algo fantastico

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  2. Belíssimo texto, sou suspeito para falar de Henágio, até fiz um artigo sobre a carreira dele.

    Quem viu a exibição dele pelo Guarani contra o São Paulo pela libertadores de 1987 teve a certeza que alguém se aproximou de Pelé por alguns segundos.

    http://www.central3.com.br/viva-henagio/

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